Percepção dos profissionais da Estratégia Saúde da Família sobre os possíveis impactos do Complexo Industrial e Portuário do Pecém na saúde da população

Abstract

O Complexo Industrial e Portuário do Pecém (CIPP) está situado nos municípios de Caucaia e São Gonçalo do Amarante, no Ceará. Neste empreendimento estão várias indústrias e um Porto, que trazem transformações econômicas, sociais e ambientais para região. Complexos como este anunciam benefícios como maior oferta de emprego e renda, mas também, podem causar impactos negativos na saúde da população local. No Brasil, a Atenção Primária à Saúde (APS), estruturada pela Estratégia de Saúde da Família (ESF), deve organizar seus processos de trabalho de acordo com o território onde atua. Assim, é pertinente entender como os profissionais da ESF compreendem os impactos do CIPP no território e se esta compreensão tem ressonância em seus processos de trabalho. Este estudo é classificado como transversal e quantitativo. Tem como objetivo investigar o padrão de percepção dos profissionais da ESF acerca de possíveis impactos do CIPP na saúde das populações que vivem em seu entorno, assim como verificar possíveis mudanças nos processos de trabalho desses frente as mudanças percebidas com a implantação do CIPP. Os dados foram coletados por meio de formulários com perguntas semiestruturadas abordando dados sociodemográficos, profissionais e de padrão de percepção dos profissionais de saúde a respeito dos impactos causados pelo CIPP no processo de adoecimento da população, bem como o planejamento das ações de trabalho dentro da equipe. Um total de 113 profissionais das três Regiões da cidade (Praia, Sede e Sertão) foram investigados. Estes percebem influências do CIPP no território, sendo observados mais aspectos positivos que negativos. Os ACS são mais sensíveis (percebem mais) que as outras categorias. Foi visto que das três Regiões do município, a Região da Praia, mais próxima do CIPP, é a que mais faz planejamento das ações de trabalho e, também, a Região que tem maior participação de seus profissionais nas atividades promovidas pelo CIPP. Nesta Região as questões ambientais e sociais também são notadas de forma mais negativa que nas outras Regiões e aponta uma piora nas doenças e agravos da comunidade. Ademais, os profissionais da Região do Sertão, mais distante do CIPP, quase não percebem aspectos negativos. A maioria dos profissionais acham importante tanto ter ações de saúde específicas para a região do CIPP quanto a implantação de uma unidade sentinela na região. Conclui-se que os profissionais da ESF percebem o impacto do CIPP na saúde da população e desenvolvem o planejamento das ações de trabalho de forma heterogênea, a depender da categoria profissional e localização de sua atuação no município.