Soroprevalência e perfil de trabalhadores da saúde no contexto da pandemia de COVID-19

Abstract

Objetivo: Descrever o cenário epidemiológico de casos e óbitos da COVID-19 entre trabalhadores da saúde, contextualizar com os marcos cronológicos e mudanças ocorridas durante os dois primeiros anos da pandemia e verificar a existência de disparidade entre os profissionais de saúde e os trabalhadores de apoio através da descrição do perfil demográfico, socioeconômico e da atividade laboral, segundo resultado de testagem sorológica para COVID-19. Métodos: Foi realizada revisão narrativa a partir de artigos, notas técnicas e boletins epidemiológicos oficiais divulgados entre os anos 2020 e 2022 e posterior compilação e apresentação integrada desses dados. Para verificação da existência de disparidade entre profissionais de saúde e os trabalhadores de apoio, foi realizado estudo transversal, entre junho e novembro de 2020, com 1331 trabalhadores da saúde que realizaram a testagem sorológica para COVID-19. As variáveis relativas às características demográficas, socioeconômicas e da atividade laboral e o resultado da sorologia para COVID-19 dos dois grupos foram avaliadas. Resultados: Essa tese é apresentada sob forma de dois artigos. Na revisão narrativa foi verificado que o Brasil esteve entre os três primeiros países em número absoluto de casos em todas as seis fases da COVID-19 descritas no artigo. Em relação aos trabalhadores da saúde, a categoria mais acometida foi a enfermagem, com auxiliares e técnicos de enfermagem ocupando a primeira posição de casos de COVID-19 e enfermeiros na segunda. Além disso, verificou-se ausência de dados integrados, sobretudo, no que tange as diversas categorias que compreendem os trabalhadores da saúde. No segundo artigo, a maioria dos trabalhadores da saúde eram profissionais iv de saúde (65,9%), todavia foi observada maior frequência de resultado positivo da sorologia para COVID-19 no grupo de trabalhadores de apoio (38,1%) em relação aos profissionais de saúde (25,5%). Com base nos fatores avaliados, observou-se inúmeras disparidades entre os dois grupos, dado que os trabalhadores de apoio foram majoritariamente constituídos por mulheres, negras, com renda de 1-3 salários mínimos, que não participaram de treinamento sobre a doença e que não tinham equipamentos de proteção individual disponíveis. Enquanto o grupo de profissionais de saúde foi composto predominantemente por mulheres, brancas, com renda de 4- 10 salários mínimos, que participaram de treinamento sobre a doença e tinham equipamentos de proteção individual disponíveis. A maioria dos profissionais de saúde foi composta por servidores públicos, enquanto os trabalhadores de apoio foram constituídos, em sua maioria, por terceirizados, grupo que deteve a maior parte de resultados positivos independente de ser profissional de saúde ou trabalhador de apoio. Conclusão: O cenário epidemiológico foi de muita incerteza durante a pandemia, devido à qualidade dos dados disponibilizados nos Sistemas de Informação em Saúde. Com base nos dados alarmantes em relação ao número de casos e óbitos entre os trabalhadores da saúde, verificou-se que o modelo de enfrentamento à pandemia adotado no país não foi adequado em relação aos princípios, métodos e práticas da Vigilância Epidemiológica. Além disso, foi observado que o grupo de trabalhadores de apoio apresentavam condições demográficas, socioeconômicas e de trabalho menos favoráveis e concentraram maior frequência para testagem sorológica positiva em relação aos demais. Esses resultados revelam a necessidade v de implementação de medidas a nível do território e central que tenham o objetivo de mitigar disparidades veementes encontradas.