Análise do Processo de Trabalho da Estratégia Saúde da Família em Territórios do Campo, da Floresta e das Águas do Ceará

Abstract

Neste trabalho abordamos as práticas tradicionais Pitaguary e sua importância nos cuidados em saúde mental na Aldeia Monguba, em diálogo com a Atenção Primária à Saúde (APS) e a Rede de Atenção Psicossocial (RAPS). Apresentamos como os indígenas percebem a atuação e o papel da APS na abordagem comunitária para a melhoria da saúde mental no território Pitaguary e realizamos uma leitura sobre o uso de psicotrópicos na atenção à saúde mental dessa população na APS e RAPS, questionando como promover a melhoria da saúde a partir das práticas tradicionais e considerando os desafios de se cuidar ao longo da vida de pacientes com quadros graves de saúde mental. A partir das práticas tradicionais dos Pitaguary, num diálogo com a RAPS, inserimos o paciente com transtorno mental nesse contexto, no qual objetivou-se compreender as percepções dos povos Pitaguary acerca das dinâmicas que envolvem a abordagem em saúde mental, as práticas tradicionais indígenas e as práticas de saúde adotadas pelo serviço de saúde na Aldeia Monguba. O método utilizado foi o de pesquisa-ação, com 20 participantes selecionados intencionalmente, que adotou círculos de cultura com perguntas orientadoras que abordaram os temas: medicina tradicional, gestão, prática tradicional, aceitação, psicotrópicos, inclusão/cuidados e processo de cura. Os discursos foram gravados, transcritos e analisados por meio da Análise Temática. Todos os aspectos éticos preconizados na Resolução 466/2012 foram respeitados, e a pesquisa foi aprovada conforme o Parecer consubstanciado número 6.511.494 do CEP/CONEP. Os resultados indicaram que as práticas tradicionais Pitaguary são essenciais para a saúde mental dos indígenas, incluindo rituais de cura, uso de plantas medicinais e pintura corporal, que promovem a conexão espiritual e a saúde mental. Identificamos um uso elevado de psicotrópicos, refletindo a medicalização do sofrimento indígena. Concluímos que as práticas tradicionais Pitaguary desempenham um papel crucial na sua saúde mental e que sua integração no sistema de saúde poderá melhorar significativamente o bem-estar mental desses povos. A valorização e incorporação dessas práticas nas políticas de saúde são fundamentais para um cuidado mais holístico e culturalmente sensível.