Características sociodemográficas, clínicas e laboratoriais de casos suspeitos e confirmados de mpox atendidos em uma coorte prospectiva em centro de referência no Rio de Janeiro, Brasil

Abstract

Até 29 de novembro de 2022, 81.225 casos de mpox foram registrados em todo o mundo, 54.749 nas Américas. Este estudo visa relatar características de casos suspeitos e confirmados de mpox acompanhados em um serviço de referência de doenças infecciosas no Rio de Janeiro, Brasil. Trata-se de uma coorte prospectiva, na qual foram incluídos todos participantes atendidos com suspeita de mpox entre 12 de junho e 16 de novembro de 2022. A infecção por mpox foi confirmada por exame molecular, através de reação em cadeia da polimerase. Comparamos as características dos casos suspeitos de acordo com a definição laboratorial (confirmados vs descartados), e dos casos confirmados de acordo com o status de infecção pelo HIV. De 739 indivíduos suspeitos, 401 (54,26%) confirmaram mpox. Em comparação com casos descartados, os casos de mpox foram mais frequentes em indivíduos de 30-39 anos, homens cisgêneros (91,27%vs.69,23%; p<0,0001), que relataram relações sexuais recentes (89,83%vs.73,94%; p<0,0001) e uso de profilaxia pré-exposição para o HIV (29,38%vs11,24%; p<0,0001) Coinfecções por HIV (50,76%vs.23,15%; p<0,0001), HCV (6,61%vs.1,37%; p<0,001) e outras infecções sexualmente transmissíveis (24,06%vs.17,06%; p=0,03) foram mais frequentes entre casos confirmados de mpox. Lesões genitais (78,99%vs.46,51%; p<0,0001), lesões anais (36,09%vs.14,39%; p<0,0001), proctite (36,53%vs.15,02%; p<0,0001) e sinais e sintomas sistêmicos (87,53%vs69,4%; p<0,001) foram mais frequentes entre os casos confirmados. Entre os indivíduos com mpox, aqueles vivendo com HIV eram mais velhos, tinham mais coinfecção com HCV (10,8%vs2,84%; p=0,003), lesões anais (49,69%vs24,24%; p<0,001) e proctite (44,72%vs28,93%; p=0,003), comparado às pessoas negativas para HIV. A transmissão de mpox no Rio de Janeiro rapidamente adquiriu contornos comunitários, com o contato sexual demonstrando papel importante em sua dinâmica, assim como altas taxas de coinfecções com outras IST, especialmente HIV. Medidas preventivas precisam atuar sobre o estigma e as vulnerabilidades sociais das pessoas afetadas.