Paleoepidemiologia da tricuríase em populações pré colombianas no Brasil: uma abordagem geoespacial

Abstract

Trichuris trichiura, membro do gênero Trichuris Roederer, 1761, infecta humanos desde a sua origem. Uma linha do tempo contendo todos os registros arqueológicos de T. trichiura foi construída, para melhor visualização da distribuição paleoepidemiológica em todo o mundo, ao longo do tempo. Esse panorama espaço-temporal da ocorrência de tricuríase foi utilizado como ferramenta na análise de mapas para melhor interpretação desde os primeiros dados de infecção (cerca de 8.000 anos AC) até períodos mais recentes. A tricu- ríase data do Período Paleolítico, cujos achados são escassos (provavelmente devido ao hábito caçador-coletor) e segue pelo período de início do sedentarismo e domesticação de plantas e animais - a Revolução Neolítica, fase temporalmente equivalente a da 1ª Transi- ção Epidemiológica. A partir dessa etapa, ocorre uma maior distribuição de casos durante a Idade do Bronze e do Ferro e a clara expansão a partir da Era Medieval. Dessa maneira, podemos observar cenários epidemiológicos que remontam a alguns casos do continente africano, europeu e sul-americano até a óbvia ocorrência em áreas do norte da Europa, Ásia e em várias regiões da América do Norte e Central. Um claro esforço nas análises do Período Medieval e aqueles subsequentes pode ser visto em relação ao grande número de amostras. O Período Moderno / Contemporâneo apresenta mais da metade dos achados associados apenas à presença de Ascaris lumbricoides, provavelmente devido a fatores correlacionados com a 2ª Transição Epidemiológica. Todos os registros arqueológicos mundiais da ocorrência de T. trichiura foram utilizados na construção de Paleo-MDEs ca- pazes de indicar as áreas ambientais com os maiores valores de adequação para a descoberta de novos achados O conjunto das previsões desses Paleo-MDEs aplicados no território brasileiro, juntamente com a identificação de diferentes manifestações culturais, podem indicar quais Tradições foram mais suscetíveis à infecção por T. trichiura em dois momen- tos distintos da pré-história brasileira: durante o Holoceno Médio e em um período entre 2000 e 1500 anos AP. A revisão da paleoepidemiologia da tricuríase visa servir de guia para novas pesquisas, priorizando locais ainda não investigados, contribuindo para um me- lhor entendimento da dispersão dessa geohelmintíase e o uso de ferramentas MDE na pre- visão de áreas com mais chances de encontrar novos sítios arqueológicos positivos.