Construção de um protótipo de instrumento para avaliação da qualidade do cuidado materno e neonatal em maternidades no Brasil

Abstract

A mortalidade materna e infantil é apontada como um grave problema de saúde pública, sublinhando a importância do componente neonatal. Em sua grande maioria, são mortes evitáveis, decorrentes de falhas e desvios na qualidade do cuidado de saúde. O objetivo do estudo foi construir um protótipo de instrumentos de avaliação da qualidade do cuidado materno e neonatal para maternidades no Brasil. O estudo envolveu três etapas: 1 - adaptação transcultural de 342 itens de avaliação propostos pela OMS, tradução, retrotradução, painéis de especialistas para aplicação do Método Delphi e consenso final, e seleção dos itens considerados pertinentes; 2 - construção do protótipo com instrumentos de avaliação endereçados a gestores, profissionais de saúde provedores de cuidado e mulheres atendidasnas maternidades e 3 - testes dos instrumentos junto aos três grupos de interesse. O teste do protótipo incluindo os três instrumentos abrangeu estudo transversal em 7 maternidades públicas do município do Rio de Janeiro, com realização de análise fatorial das respostas obtidas. Um total de 342 itens foram julgados quanto à sua recomendação, através do Método Delphi. Para 118 itens houve concordância de 100% quanto à sua recomendação e foram selecionados automaticamente para compor os instrumentos; 26 foram avaliados como não recomendados, 24 foram excluídos por duplicidade e 4 por equivalência. Já os itens em que houve a necessidade de ajustes e aqueles em que não houve consenso entre os avaliadores foram submetidos a um novo painel de especialistas para consenso final em interação simultânea. Ao todo, 172 itens foram submetidos ao painel de especialistas, e 26 não foram recomendados para compor o instrumento No conjunto, 186 dos 342 itens propostos pela OMS constituíram os instrumentos, aplicados junto a 07 gestores, 125 profissionais prestadores de cuidado e 126 mulheres atendidas nas maternidades. Na análise fatorial, identificaram-se três fatores para o instrumento dos profissionais: atendimento à mulher durante o trabalho de parto e parto, atendimento ao recém-nascido e aspectos relacionados aos profissionais de saúde. De maneira substancial, as mulheres deram respostas uniformes e concentradas nos extremos na escala adotada sobre suas experiências nas diferentes maternidades, exceto com relação à orientação recebida por profissionais de saúde sobre os sinais de perigo após o parto, a sua satisfação com a experiência de parto e o ambiente físico na maternidade em que realizaram o parto, onde se observou maior variabilidade. Da mesma forma, a maior parte das variáveis teve total homogeneidade entre os gestores, indicando pouco poder de discriminação da qualidade do atendimento materno e neonatal. No conjunto, os instrumentos propostos, aplicados em contextos homogêneos, tiveram pouco poder de discriminação da qualidade das maternidades, em função das práticas reguladas dentro de uma mesma realidade municipal. É desejável a aplicabilidade dos instrumentos em outros contextos sanitários do país, a fim de verificar a variabilidade natural das respostas.