Análise do fluxograma de atendimento dos pacientes com suspeita ou diagnóstico de câncer de pulmão em um serviço ambulatorial de oncologia privado

Abstract

INTRODUÇÃO: O câncer de pulmão é uma doença grave, de alta incidência e elevada mortalidade, portanto a avaliação de um paciente com suspeita de câncer de pulmão deve ser realizada no menor tempo possível e da maneira mais eficiente devido ao seu impacto nos desfechos clínicos. OBJETIVO: Avaliar o impacto da implantação do fluxograma de atendimento dos pacientes com suspeita de câncer de pulmão nos intervalos de tempo para a realização das etapas diagnósticas até início do tratamento, assim como o efeito da pandemia do COVID-19 nesse fluxo. MÉTODO: Estudo observacional, de coorte retrospectiva, envolvendo todos os pacientes consecutivos com suspeita diagnóstica de câncer de pulmão registrados entre janeiro de 2019 a dezembro de 2021 e navegados pela enfermeira da oncologia torácica através do fluxo das etapas de diagnóstico até tratamento. Os indicadores assistenciais, estabelecidos de acordo com outros protocolos nacionais e internacionais, avaliados foram: I-DESEMPENHO: tempo para diagnóstico (TPD), tempo para tratamento (TPT) e tempo para adjuvância (TPA;) II-CUIDADO: taxa de pacientes em estágio III avaliados em reunião multidisciplinar (TMD) e acesso a avaliação multidisciplinar antes do segundo ciclo. III-DESFECHO: Queda de performance status (PS) antes do início do tratamento e sobrevida global (SG) em 1 ano. Também foi avaliado mortalidade por COVID durante a pandemia. RESULTADOS: Foram incluídos 226 pacientes, 122 do sexo masculino (54%); a idade mediana foi 58 anos. Noventa e um pacientes foram diagnosticados em estágio inicial I e II (40% dos casos), 56 em estágio III (25%) e 79 com doença estágio IV (35%). Em 2019, apenas 25% dos pacientes tiveram TPD < 21 dias. Após ajustes operacionais como aceleração da patologia e pré autorizações de procedimentos diagnósticos, esse número aumentou para 65% em 2020 e 78% em 2021 O TPA foi de 39 dias em 2019, e 53 dias e 55 dias nos anos 2020 e 2021, respectivamente, afetado pelas restrições às terapias imunossupressoras na pandemia do COVID-19. Quinze por cento dos pacientes tiveram queda no PS, parâmetro que permaneceu estável ao longo dos anos. Todos os pacientes com doença estágio III foram avaliados pela equipe multidisciplinar e discutidos em reunião em todo o período do estudo. Entre março a dezembro de 2020 (pico da pandemia do COVID na Bahia), 49 pacientes morreram. Vinte e três pacientes morreram com um diagnóstico de COVID-19, correspondendo a 47% das causas de óbito. A SG em 1 ano foi 78,6% em 2019, 75% em 2020 e 76% em 2021. CONCLUSÃO. A implantação da linha de cuidado com criação de um fluxograma assistencial monitorado por uma enfermeira navegadora garante a multidisciplinaridade da assistência, assim como a identificação de pontos de atrasos que podem ser otimizados em curto período reduzindo o tempo para a realização das etapas diagnósticas até início do tratamento. O benefício clínico esperado com a otimização dos fluxos e tempos é independente dos tratamentos que estão sendo implementados, algo fundamental num país com escassez de recursos e defasagem no acesso