Análise da adesão e do cuidado obstétrico para melhoria da qualidade em maternidades no “Projeto Parto Adequado”

Abstract

Introdução: Realidades de saúde insatisfatórias como as altas taxas de cesáreas injustificadas no setor suplementar brasileiro de saúde, suscitam a necessidade de intervenções complexas e com alto poder de inovação, como o Projeto Parto Adequado (PPA). A reorganização dos cenários de trabalho de parto e parto no setor suplementar brasileiro, caracterizado por altas taxas de cesarianas, tornou-se uma preocupação de saúde pública. Objetivo: Analisar os aspectos contextuais relacionados à adesão e à reorganização do cuidado na implantação do PPA, em hospitais privados. Método: Pesquisa do tipo analítico exploratório, por meio de estudo de caso único, incorporado, com abordagem qualitativa, sendo o caso a intervenção PPA. A análise foi realizada em 08 hospitais inseridos na Avaliação Nascer Saudável. Foram entrevistados 10 (dez) gestores e 24 líderes/coordenadores assistenciais e 49 profissionais da assistência. Totalizando 83 entrevistados. A construção e a análise dos dados foram realizadas no software MaxQda. Como técnica foi utilizada a Análise de Conteúdo. Como lente de análise, utilizou-se o referencial teórico Difusão de Inovações, modelo dos cinco estágios, em que se aprofundou até o quarto estágio (conhecimento, persuasão, decisão e implantação); e por fim utilizou-se o conceito de interprofissionalidade para entender as relações profissionais construídas nas organizações. Resultados: Os principais motivos da adesão ao PPA foram a ausência de outros projetos de melhoria da qualidade nos serviços privados brasileiros com intervenções multifacetadas; status social e de mercado por participar do PPA; compromisso com a qualidade do cuidado; e a possibilidade de reformas estruturais relacionadas à implantação do projeto. Com relação à mudança na rotina de trabalho e mudança no cuidado à mulher após o início do PPA, houve práticas de cuidado que foram incorporadas, outras que foram adaptadas e práticas que foram rejeitadas. Na análise dos aspectos de mudança na rotina de trabalho e no cuidado à mulher produziu duas dimensões analíticas das relações profissionais no trabalho: (1) Gatilhos para a mudança da cultura cesarista; e (2) Enfermagem obstétrica no setor privado: o trabalho sem o parto. Conclusão: Construções sociais, culturais e econômicas motivaram a adesão ao PPA. Houve também uma reorganização dos modos de saber fazer e cuidar em obstetrícia após a implantação do projeto. Entretanto, ao analisar as relações interprofissionais na prática obstétrica, percebe-se ainda fragilidade na atenção aos desejos e necessidades em saúde das mulheres e suas famílias durante a assistência ao parto e nascimento.