Bom é ter um teto sobre a cabeça dos meus filhos: percepções de residentes de uma ocupação urbana sobre saúde e moradia

Abstract

O objetivo deste trabalho é identificar e analisar impactos à saúde a partir da moradia em uma ocupação urbana, segundo a percepção de seus moradores. A moradia em questão é a Ocupação IBGE, realizada no bairro da Mangueira, situado no Município do Rio de Janeiro, do fim da década de 1990 até 2018, quando foi implodida pela Prefeitura. A temática foi trabalhada utilizando bases teóricas da Antropologia Social e da Saúde Pública (neste caso, em especial o campo da Determinação Social da Saúde). A abordagem metodológica escolhida foi a etnografia, com a realização de observação participante que resultou na produção de um caderno de campo e 8 entrevistas em profundidade com ex-participantes da ocupação. Os dados obtidos foram trabalhados através da Análise Temática (BRAUN; CLARKE, 2006). Os principais resultados foram: significativa trajetória de vulnerabilidade socioeconômica dos moradores; agravos à saúde a partir de violências experienciadas na moradia (notavelmente a violência policial e falta de acesso à direitos sociais fundamentais); aumento de fatores de proteção à saúde a partir da moradia (inserção em redes comunitárias e fortalecimento identitário); insuficiência e inadequação ações do poder público voltadas para a ocupação. A discussão tem como foco os processos de sujeição criminal (MISSE, 2008) que envolvem a população habitante da ocupação e a análise de barreiras e oportunidades no modo como tem sido tratada no meio acadêmico a imbricação entre habitação e saúde.