Um olhar de profissionais de equipes de Saúde da Família sobre saúde, ambiente e trabalho da população do campo e das águas

Abstract

No Brasil, o trabalho e o ambiente são considerados como determinantes e condicionantes da saúde na Constituição Federal de 1988, sendo essencial que as práticas de saúde na Estratégia Saúde da Família (ESF) abordem esses temas. As Populações de Campo e das Águas (PCA) têm seus modos de vida, produção e reprodução social relacionados predominantemente com a natureza. As PCA estão expostas aos mais diversos riscos e processos de adoecimento devido às más condições higiênico-sanitárias do território. Este estudo objetivou apreender as percepções sobre trabalho, ambiente e saúde de profissionais de equipes da Estratégia em Saúde da Família que atuam em territórios do campo e das águas em municípios do Nordeste brasileiro. Foi uma pesquisa qualitativa, exploratória, realizada em quatro municípios, sendo três no Ceará e um no Rio Grande do Norte. Foram entrevistadas uma equipe da ESF de cada município, totalizando 29 entrevistados. Utilizou-se análise temática, para apreensão das percepções, das singularidades e divergências que os profissionais da ESF vivenciam na atuação em saúde rural. Esta pesquisa faz parte do projeto “Produção de indicadores para avaliação das condições de vida das famílias e acesso aos serviços de atenção primária em territórios do litoral e do sertão do Ceará e do Rio Grande do Norte” do Programa Inova Fiocruz. A referida pesquisa foi submetida à apreciação e autorizada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Escola de Saúde Pública do Ceará, indicado pela Plataforma Brasil, em 05 de junho de 2019, através do parecer nº 3.372.478. Os resultados foram apresentados no formato de três artigos científicos. Nestes, identificou-se uma visão ainda higienista dos profissionais acerca de Saúde Ambiental, demonstrando a necessidade de se desenvolver processos formativos, acerca do tema; o trabalho foi destacado como fonte de subsistência e renda para a PCA, ainda que não de maneira suficiente; e compreendeu-se as práticas em saúde dos profissionais, corroborando para o acesso da PCA, para a inserção de práticas integrativas e complementares e a essencialidade de agentes comunitários e agentes de combates de endemias em território rural. Observou-se que aspectos relacionados à saúde, trabalho e ambiente ainda são pouco mencionados em um território cuja população tem o modo de vida predominantemente relacionado à terra. O estudo contribuiu para evidenciar a urgência da efetivação das políticas já elaboradas, a necessidade do cuidado individual, coletivo e social dos profissionais de saúde da ESF, os quais necessitam da educação permanente para qualificar e aprimorar a atenção à saúde, principalmente em território de campo e das águas como garantia de equidade em saúde.