Mobilização social para o enfrentamento de dengue, zika e chikungunya: análise do modelo de organização de uma Proposta de Vigilância em Saúde de base territorial

Abstract

A Proposta de Vigilância em Saúde de base territorial para o fortalecimento da mobilização social para o enfrentamento da dengue, zika e chikungunya foi elaborada diante do contexto instaurado no Brasil em 2015 e 2016, caracterizado pelo recrudescimento de casos de dengue, descoberta da circulação de chikungunya e zika e pelas consequências advindas desse quadro, como mortalidade, cronificação dos sintomas relacionados à chikungunya, síndrome congênita relacionada ao zika e sobrecarga dos serviços de saúde. A Proposta, conduzida desde 2016, foi ancorada n a estreita relação entre Vigilância em Saúde e Promoção da Saúde e previu a criação de comitês populares em escolas estaduais da rede pública do Estado de Minas Gerais compostos por moradores e trabalhadores do território Toda condução da Proposta foi realizada a partir de uma plataforma on line com recursos interativos que incluíam tutores, participantes do grupo de pesquisa O objetivo da pesquisa foi analisar o modelo de organização da Proposta de Vigilância em Saúde de base territorial. Para contemplar esse objetivo foram analisados: a forma de gestão e condução da Proposta, a contribuição da plataforma on line para o modelo de organização da proposta; e a atuação dos comitês populares. O modelo de gestão da Proposta envolvia, em uma posição mais abrangente um Grupo Gestor composto por instituições de ensino, pesquisa e saúde; logo após as Superintendências Regionais de Ensino, envolvendo as escolas estaduais de sua área de abrangência. As escolas, por sua vez, eram as instituições responsáveis pela divulgação da Proposta no território e mobilização da população. A construção da plataforma on line considerou critérios como: facilidade para usuário; acesso; armazenamento de material; interatividade e banco para monitoramento de dados. Esses critérios garantiram a comunicação e interação entre tutores e comitês populares. A análise do acesso à plataforma on line evidenciou decréscimo a partir do segundo ano de implementação da Proposta. Fatores relacionados ao contexto do setor educação, como período de férias, greve e volume de projetos educacionais podem ter influenciado nessa questão. Os 54 comitês populares formados, que poderiam ter em sua constituição representantes da comunidade escolar e moradores do território, foram conformados de formas diversas, havendo, contudo, predominância de alunos e professores. Os comitês populares elaboraram, com especificidades referentes, muito provavelmente, ao território e aos seus integrantes, o diagnóstico do local e os planos de ação para o enfrentamento da dengue, zika e chikungunya. A análise empreendida demonstrou a potencialidade da Proposta em contribuir com a concretização de um modelo de vigilância em saúde articulado ao território e às necessidades de saúde locais e, por conseguinte, sua aplicabilidade em situações de saúde diversas. A metodologia adotada permitiu a identificação, reflexão e encaminhamentos sobre fragilidades identificadas durante todo processo de análise. Uma limitação importante do estudo foi a participação incipiente de algumas instituições envolvidas na gestão e condução da Proposta. A possibilidade e importância de ampliar a participação popular nos motivou a compreender a conformação de redes e laços de solidariedade nos territórios, originando um projeto de pesquisa que dará continuidade à Proposta de Vigilância em Saúde de base territorial.