Fatores associados à não realização do exame preventivo do câncer do colo do útero em populações rurais ribeirinhas do Rio Negro, Manaus, Amazonas

Abstract

O câncer do colo do útero (CCU) constitui em todo mundo um grave problema de saúde pública e é o segundo tipo de câncer mais comum em mulheres de todo o mundo, com cerca de 500 mil casos novos a cada ano, sendo responsável pelo óbito de 250 mil mulheres anualmente, onde aproximadamente 80% destes ocorrem em países de baixa renda. O presente estudo objetivou identificar os fatores associados à não realização do exame preventivo do câncer do colo do útero (PCCU) em populações rurais ribeirinhas do Rio Negro, Manaus, Amazonas. Trata-se de um inquérito transversal realizado em 36 comunidades rurais ribeirinhas de Manaus, situadas na margem esquerda do Rio Negro, Amazonas, além da avaliação de registros administrativos referentes à realização do exame PCCU no período de janeiro de 2016 a maio de 2019. A amostra foi composta por 221 mulheres com idades entre 18 e 59 anos. As entrevistas foram realizadas através de questionários eletrônicos e os dados passaram por análise descritiva, regressão logística bivariada e multivariada utilizando o programa SPSS Statistics. A maior parte das mulheres avaliadas no estudo relatou ter feito o exame PCCU há menos de um ano, com um tempo de entrega satisfatório dos resultados e a grande maioria dos exames realizados em um estabelecimento público de saúde. Aspectos organizacionais e individuais foram relatados como motivação entre aquelas que nunca tinham realizado o exame preventivo. Entre as mulheres na faixa etária recomendada para a realização do exame, multiparidade, ocupação do lar e desconhecimento sobre a unidade responsável pelo atendimento mostraram-se associados à não realização do exame nos últimos três anos. Além do percentual elevado de exames realizados fora da faixa etária preconizada pelo Ministério da Saúde (25-64 anos), observou-se nos registros administrativos realizações indevidas dos exames, segundo as diretrizes preconizadas, e um número relevante de amostras insatisfatórias coletadas. Identificou-se boa cobertura do exame PCCU na população de estudo, embora os achados tenham mostrado que as mulheres residentes nestas localidades rurais ribeirinhas estão sendo rastreadas fora da faixa etária preconizada. Determinantes estruturais (ocupação) e intermediários (vínculo com a unidade de saúde e multiparidade) mostraram-se associados à realização do exame. É possível que a equipe de saúde esteja enfrentando dificuldades para o controle adequado desse acompanhamento, evidenciado tanto com realização desnecessária e indevida de exames, quanto com atrasos na realização dos mesmos.