Características associadas ao tempo até o início do tratamento do câncer de mama entre mulheres residentes na região nordeste, de 2006 a 2015

Abstract

Estimativas crescentes da incidência do câncer de mama refletem a necessidade do planejamento de políticas públicas para melhoria no atendimento às pacientes oncológicas. Desigualdades no ingresso aos serviços de saúde ocorrem entre pessoas com menos recursos financeiros e diversos fatores dificultam o percurso até o início do tratamento. Analisar as características socioeconômicas e clínicas associadas ao tempo até o início do tratamento do câncer de mama entre mulheres residentes na Região Nordeste, de 2006 a 2015. Foi realizado um estudo observacional do tipo transversal de base hospitalar que utiliza dados secundários dos Registros Hospitalares de Câncer (RHC). Como houve uma diferença muito grande em relação ao tempo mediano dos três diferentes tipos de tratamento mais indicados as mulheres, as análises foram estratificadas por três categorias de tratamento: cirurgia, radioterapia e quimioterapia. Utilizou-se o estimador de Kaplan Meier como forma não paramétrica de estimação de funções de probabilidade de tratamento do câncer de mama, e posteriormente foi construído um modelo semi-paramétrico de Cox, com finalidade de calcular hazard ratios e seus respectivos intervalos de confiança (95%). A mediana dos tempos entre o diagnóstico e tratamento foi de 48 dias tanto para cirurgia quanto para quimioterapia, e 91 dias para radioterapia. Para as mulheres que iniciaram com cirurgia ou quimioterapia, a probabilidade global de receber o tratamento em até 60 dias foi bem maior, sendo de 0,60 (IC95%: 0,59–0,61) e de 0,63 (IC95%: 0,61–0,64) respectivamente. Já nas que iniciaram pela radioterapia, a probabilidade foi de 0,35 (IC95%: 0,32–0,39). As variáveis que apresentaram associação com a cirurgia e a quimioterapia foram: faixa etária, escolaridade, raça/cor, origem do encaminhamento, tipo histológico e estadiamento. Por radioterapia foram: faixa etária e estadiamento. Foi nítida a demora que as mulheres que precisavam realizar a radioterapia tiveram, um reflexo da escassez de oferta desse tratamento. Mulheres com condições sociais mais favoráveis tiveram um risco maior de serem tratadas em até 60 dias. Mulheres com estádios mais avançados são atendidas mais rapidamente provavelmente por possuírem um pior prognóstico da doença.