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https://www.arca.fiocruz.br/handle/icict/25662
INQUÉRITO NACIONAL DE PREVALÊNCIA DA ESQUISTOSSOMOSE MANSONI E GEO-HELMINTOSES
Katz, Naftale | Data do documento:
2018
Autor(es)
Afiliação
Fundação Oswadlo Cruz. Instituto René Rachou. Belo Horizonte, MG, Brasil
Resumo
Este Inquérito de Prevalência da Esquistossomose e das Geo-helmintoses, realizado no Brasil, é o
primeiro com abrangência em todos os estados da Federação. Trata-se de estudo de corte transversal,
de base populacional, com o objetivo de conhecer a situação atual da esquistossomose, da tricuríase, da
ancilostomíase e da ascaridíase, em escolares de 7 a 17 anos, de ambos os sexos.
Para a seleção da amostragem foram consideradas quatro regiões epidemiológicas: (i) - área endêmica
para esquistossomose com mais de 500.000 habitantes de 16 Unidades Federadas (UF); (ii) - área
endêmica com menos de 500.000 habitantes de 12 UF; (iii) - área não endêmica para esquistossomose,
constituída por municípios com população inferior a 500.000 habitantes de 26 UF e, (iv) - área não endêmica
com mais de 500.000 habitantes de 14 UF.
Foram examinados 197.564 escolares residentes em 521 municípios, ou seja, 96,1% do planejado,
nas 27 Unidades de Federação e no Distrito Federal. Em nove estados, o percentual de exames realizados
variou de 60% a 80%; em seis entre 80% e 100% e em nove estados foi superior ao planejado.
Nos Estados do Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Rio Grande do Sul, a adesão variou de 19% a 37%,
comprometendo a representatividade amostral.
Para a esquistossomose, os resultados mostraram que as macrorregiões Nordeste e Sudeste apresentaram
os maiores índices de positividade, sendo de 1,27% e 2,35%, respectivamente. Na macrorregião
Norte, a positividade foi de 0,01%, na Centro-Oeste de 0,02% e na Sul, nenhum caso foi diagnosticado.
Nas áreas endêmicas para esquistossomose, a proporção de positivos foi de 0,27% e 3,28% nos
municípios com mais ou menos de 500.000 habitantes, respectivamente. Nas áreas não endêmicas, com
mais de 500.000 habitantes, a positividade para S.mansoni foi de 0,05% e, nos municípios com menos
de 500.000 habitantes, de 0,13%.
Os estados que apresentaram as maiores proporções de positivos, nos municípios com população
até 500 mil habitantes, estavam localizados em Sergipe (10,67%), Pernambuco (3,77%), Alagoas (3,35%),
Minas Gerais (5,81%) e Bahia (2,91%). Chama a atenção os municípios com mais de 500.000 habitantes
localizados no Rio de Janeiro (2,80%) em Pernambuco (2,48%) e em Sergipe (2,28%). Com exceção do
Espírito Santo (1,02%), nos outros estados a proporção de positivos foi menor que 0,5%.
No Brasil foram encontrados 194.900 escolares negativos e 2.664 eliminando ovos de S. mansoni. A
proporção de positivos foi de 0,99% (IC95% - 0,20 a 1,78).
Em relação às geo-helmintoses, foram encontrados 5.192 escolares com ovos de ancilostomídeos nas
fezes, dando uma proporção de positivos de 2,73% (IC95% - 1,98 a 3,49). As maiores taxas encontradas
na região Norte foram no Pará (7,21%), Tocantins (6,06%) e Amazonas (3,14%). Nos outros estados desta
região, as taxas fi caram em torno de 1%. Na região Nordeste, os estados com maior positividade foram
o Maranhão (15,79%), Sergipe (6,62%), Paraíba (5,09%) e Bahia (4,23%). Nos outros estados desta região,
a positividade fi cou abaixo de 2%. No resto do país, a proporção de positivos fi cou abaixo de 1%, sendo
que do Rio de Janeiro até o Rio Grande do Sul, esta proporção foi de 0,5%. A distribuição da ascaridíase e tricuríase guardam semelhança. Foram encontrados 11.531 escolares
com Ascaris lumbricoides, ou seja, 6,00% (IC95% - 5,05 a 6,96). Nas regiões Norte e Nordeste foram
encontradas as maiores taxas de positividade: Amazonas (19,14%), Maranhão (17,49%), Alagoas (14,26%),
Sergipe (12,86%) e Pará (11,78%). Nos outros estados destas regiões, a positividade girou em torno de
5%, com exceção da Roraima (0,71%) e Rondônia (0,88%). No Rio de Janeiro, Paraná, Santa Catarina em
torno de 5%, em Minas Gerais 1,43% e, no Espírito Santo 2,73%.
Para a tricuríase a taxa de positividade foi de 5,41% (IC95% - 4,06 a 6,77), isto é, 10.654 escolares
positivos. As maiores proporções de positivos estão nas regiões Norte e Nordeste: Amazonas (21,79%),
Pará (20,65%), Sergipe (16,99%) e Alagoas (15,04%). Para os estados do Amapá, Acre, Maranhão, Rio
Grande do Norte, Paraíba, Bahia, Pernambuco, Rio de Janeiro, Paraná e Santa Catarina em torno de
5% e nos outros estados em torno de 2% .Para a região Centro-Oeste, exceção do Mato Grosso, a taxa
esteve em torno de 0,1%.
Comparando-se os dados deste inquérito com os dos dois realizados no Brasil, sendo o primeiro por
Pellon & Teixeira (1949-53) e o segundo pelo Programa Especial de Controle da Esquistossomose (1975-
78), podemos ver que a queda da prevalência das parasitoses em questão é grande. De fato, considerando-
se os dados encontrados nestes três inquéritos em 11 estados endêmicos para esquistossomose,
a positividade caiu de 10,09% para 9,24% e atualmente está em 1,79%. Em relação as geo-helmintoses,
a diminuição é ainda maior. No primeiro inquérito de Pellon & Teixeira, a proporção de positivos na região
Norte, Nordeste e em Minas Gerais variou de 80% a 100%, estando este índice atualmente, muito abaixo
do encontrado anteriormente. Apenas para exemplificar, no Maranhão, a proporção dos escolares positivos
para geo-helmintos era de 99,4% e atualmente encontra-se em torno de 20%. Já em Minas Gerais,
cuja taxa era de 89,4%, neste último inquérito foi de 1,4% para Ascaris, 0,9% para ancilostomídeos e,
0,6% para Trichuris.
Como possíveis causas para o decréscimo de positividade dessas parasitoses, podemos destacar a
urbanização, trazendo como o seu correlato, o saneamento, isto é, o abastecimento de água domiciliar e
esgoto que teve um crescimento expressivo nesse periodo. Devemos levar em conta também, os milhões
de tratamentos específicos, que vem sendo realizados há décadas no Brasil, com medicamentos de baixa
toxicidade, que produzem poucos efeitos colaterais, usados em dose única, por via oral e que tem baixo
custo. Seguramente, estes fatores foram importantes para a diminuição da morbimortalidade, da prevalência
e da intensidade de infecção destas parasitoses.
Os resultados deste Inquérito, que retratam a situação atual da esquistossomose e das geo-helmintoses
em nosso país, devem ser usados para o planejamento de políticas, visando a eliminação destas parasitoses
como doenças de saúde pública, com o objetivo de alcançar o bem estar da população brasileira,
através do término da iniquidade e do aumento da justiça social.
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