Abstract in Portuguese | Observa-se na esquistossomose a reação granulomatosa como a principal forma de expressão patológica no hospedeiro definitivo. O cenário é composto pela presença do ovo de Schistosoma, com resposta inflamatória mais
proeminente observada no fígado, circundado por células inflamatórias dispostas em uma matriz extracelular organizada e compacta, formando três zonas distintas. Na zona periférica, principalmente entre fibras reticulares, é possível observar hematopoese extramedular, atuando de forma a compensar ou aumentar a resposta hematopoética da inflamação. Estudos anteriores, inclusive de nosso grupo, já demonstraram topologicamente a presença de
hematopoese extramedular nos granulomas, bem como diferenças encontradas na resposta hematopoética medular frente à infecção esquistossomótica. No entanto, à luz das novas tecnologias disponíveis hoje, pretendemos
detalhar e entender as mudanças do perfil hematopoético na infecção esquistossomótica, com especial atenção ao microambiente da hematopoese perigranulomatosa e perivascular hepática. Para isso, camundongos machos Swiss
Webster foram infectados no quinto dia de vida por 70 cercárias via percutânea e eutanaziados no 35º, 40º, 45º, 50º e 60º dia pós infecção (dpi). Fragmentos de fígado foram coletados, fixados em formalina de Millonig de
Carson e embebidos em parafina ou criopreservados para serem utilizados nas técnicas histológicas, como hematoxilina e eosina, sirius red pH10,2, picrossirius, alcian blue e Reticulina de Gomori, e de imunofluorescência, com o uso
dos anticorpos anti Ki67, MMP9, fibronectina, actina, Sca-1, vWF e CD31. A partir de 40dpi foram observados alguns ovos espaçados e grandes vasos hepáticos circundados por células hematopoéticas, além de células inflamatórias
chegando através dos sinusoides. Aos 50dpi, progenitores mieloides, eosinófilos maduros e imaturos e neutrófilos já foram identifica dos na zona periférica do granuloma e ao redor de vasos. A presença de algumas células em mitose e a positividade para Ki67 mostraram que algumas células chegam e proliferam nessa região, confirmando a ocorrência de hematopoese extramedular. Foi possível identificar algumas células esparsas exibindo positividade para
Sca-1, o que indica que células hematopoéticas com um importante grau de indiferenciação chegam à periferia do granuloma. Também foram observados alguns grupos de megacariócitos expressando vWF, indicando que um há alguma quimioatração hepática para essas células, ou que um progenitor bastante imaturo migra para o fígado, prolifera e se diferencia em megacariócitos nessa região. A presença de glicoconjugados ácidos, demostrada pela coloração por Alcian Blue pH 1,0, e também de fibras colagenosas dos tipos I e III, demonstrada pelo Picrosirius, bem como a presença de actina e a ausência de fibronectina, sugerem que as células hematopoéticas chegam a um microambiente composto por moléculas de matriz extracelular importantes para a atração e manutenção da hematopoese no fígado. Além disso, algumas células hematopoéticas, majoritariamente neutrófilos, são capazes de secretar MMP9, uma molécula capaz de modular a matriz e que também pode atuar na mobilização de células tronco hematopoéticas para fígados com lesão. A expressão de CD31 demonstrou um aumento no número de vasos sanguíneos durante a infecção, mas não foi possível detectar progenitores endoteliais e, assim, confirmar a ocorrência de angiogênese. Nesse trabalho nós propusemos aprofundar os estudos focados na hematopoese extracelular erigranulomatosa hepática durante a infecção por Schistosoma mansoni em camundongos. Nossos dados sugerem que progenitores de níveis de diferenciação distintos são recrutados para o fígado dos animais infectados, onde encontram um ambiente apropriado para a diferenciação mieloide tanto na periferia do granuloma, quanto ao redor dos grandes vasos. A participação potencial de progenitores endoteliais ainda precisa ser melhor investigada, apesar da observação do aumento do número de vasos sanguíneos no fígado infectado. Também é necessário atentar às mudanças ocorridas na medula óssea, além de investigar o grau de maturação dos progenitores hematopoéticos que circulam no sangue periférico. | en_US |