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https://www.arca.fiocruz.br/handle/icict/20303
RADIS - NÚMERO 112 - DEZEMBRO
Comunicação em Saúde
Brasil
Eventos Científicos e de Divulgação
Desenvolvimento Sustentável
Fundação Oswaldo Cruz. Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca | Date Issued:
2011
Responsible institution
Abstract in Portuguese
Com todo respeito aos otimistas, estamos longe de dar exemplo de desenvolvimento sustentável, como faz crer o texto oficial do Brasil entregue às Nações Unidas, em novembro, em contribuição ao documento final da Rio+20, a ser realizada aqui, em junho de 2012. O texto (disponível no site do RADIS) tem méritos e qualidades, mas, para harmonizar interesses, abre brechas demais. Não põe em questão agronegócio e pecuária extensiva, baseados no latifúndio, desmatamento, monocultura e trabalho indigno. Refere-se a trabalho “decente” e empregos “adequados”, contornando substantivos como salário e direitos, e, em quase 40 páginas, não cita uma única vez a palavra agrotóxico. Nada sobre o novo Código Florestal. Reforma Agrária, nem se esperava mesmo. O documento qualifica a “economia verde” com adjetivos como “inclusiva” ou no “contexto do desenvolvimento sustentável”, sem avaliar que não serão documentos e siglas como “ODS” para designar “objetivos do desenvolvimento sustentável” que obterão hegemonia na produção do
sentido, mas a mídia, o mercado, o capital. Algo como aconteceu com a expressão
“sustentável”, defendida na Rio 92, que rapidamente foi engolida pelos conceitos
de desenvolvimento “sustentado” — algo que não deve parar de crescer. O texto soa pouco sustentável quando defende “expansão econômica” com “acesso ao consumo das camadas desfavorecidas”. Quer combater desperdício e reaproveitar recursos, mas não propõe redução do uso e do consumo. Gastar menos os recursos, para continuar preservando e dispondo de mais. Ao falar de saúde, não menciona seus determinantes sociais nem defende adoção de sistemas universalizados. Em educação, fala de tecnologias de comunicação para educação a distância e não de diálogo entre conhecimentos. Para haver participação social, lembra do acesso a informações, mas não ousa defender democratização e direito à comunicação. Essa é a visão oficial que vai nos representar no encontro dos chefes de Estado no Riocentro. Disputarão espaço posturas ainda mais conservadoras dos países poluentes e nações que não querem abrir mão de vida confortável e luxuosa. Fora dali, outros debates acontecerão. Gente envolvida com os estudos e a militância por um outro tipo de desenvolvimento, que una economia ao social e ao ambiental. Nossa matéria de capa fala dessas duas arenas e ouve especialistas em ambiente e saúde ambiental, antecipando as melhores perspectivas de reflexão, proposição de mudanças e mobilização. As autoridades brasileiras bem que poderiam provar suas intenções e destinar, por exemplo, a maior parte dos recursos decorrentes do Pré-Sal para desenvolver alternativas de energia realmente limpas e renováveis e torná-las acessíveis. Talvez assim, sem ilusões, como quer o artigo que encerra esta edição, até os cidadãos que ainda não acordaram para as questões socioambientais entenderiam a senha para a imensa transformação produtiva, cultural e de consumo necessária à reversão do atual modelo hegemônico no país, rumo a um futuro sustentável e, portanto, saudável.
DeCS
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